sábado, 22 de março de 2008

Quem sou



Dos heróis, sou Dom Quixote
Luto em nome do amor
Dos bandidos, sou Pixote
Tiraram-me meu valor
Em sentimentos, sou tolice
E não sei pra onde vou
Na pureza, sou Alice
E de certo não sei quem sou...
Da droga, sou o vício
E dos animais, sou a fera
Dos amantes, sou Vinícius
Vinícius? Ai quem me dera...


Leonardo Guimarães

sexta-feira, 21 de março de 2008

A ararinha e a gaita

Oh ararinha bonitinha, diz você
Onde foi que escondestes minha gaitinha
Sem ela sou fraquinho, fraquinho... Não vê?
Diz-me logo onde pôs, minha ararinha

Dá-me e toco aquela música que gostas
Aquela mesmo em que levantas a patinha
Sacodes o bico e treme as penas com as notas
E depois pula, pula alto, ararinha...

Que arara mais marota e brincalhona
Dentre todas, é esta, arara minha
Pega a gaita, toda noite, na poltrona
E esconde bem debaixo da asinha!

Leonardo Guimarães

Soneto de amar

Do amor que em mim havia
Somente a solidão restou
Não conheço-te mais, todavia
Fostes tu que em meu peito celebrou

Surgiu, floresceu e morreu
Como tudo nessa vida de matar
Era flor desabrochada esse amor teu
Era estrela, viva em noite de luar

Mas passa, sempre passa – e passou!
E essa dor que talvez fique, e sempre fica
É inefável dor de amor – de quem amou

Lembrar-te é ver-te como espinho que me fura
É sentir-te como luz que se apaga
É viver-te, degustar-te em amargura...


Leonardo Guimarães

O querer

Não devo!
Quero? Não sei...
Quero a Paz, quero o Sossêgo
Da dor, um pouco...
Não muito!

É preciso que seja a medida ideal
Que venha inesperadamente
Como a chuva de verão
E que seja branda.
Felicidade é bom, mas demais, enjoa.
Quero também, se possível, um quintal
Não grande! Que dê pra andar lentamente
Pisar as folhas secas no chão
E que sempre pareça tocar uma cantiga
Talvez de ciranda... Uma cantiga atôa.
Quero uma cabana perto do rio
Onde eu fuja e tente me achar
Ou que me perca, me perca por lá
E ninguém nunca mais encontrar...

E que bom seria um amor...
Para comigo estar,
Para comigo andar,
Para comigo amar...


Leonardo Guimarães

sábado, 15 de março de 2008

Se tu entrasses por esta janela agora...



Se tu entrasses por esta janela agora
De certo, não me veria
Veria muito, e não veria a mim.

Veria minha dor, balançando-se na cadeira
E a pouca felicidade, já em cinzas, na lareira...
Respiraria meu ar cansado, e veria ao chão
Dilacerado, meu verbo inconsútil.
Ainda estariam, como fumaça, os amores deixados
Os amores deixados, os amores roubados...
Veria minhas crenças sobre a cabeceira
Veria meu erros, que tanto escondi
Tocaria minha pureza de mulher-freira
E choraria ao ver ali, onde vivi
Meu corpo manso, alheio a tudo
Meu corpo calmo, ainda desnudo
Minha vida breve, breve de tudo...

Mas de certo, ali, eu não estaria.

Tu andarias e viria me afagar
Espantado, pararia e escutaria
O barulho de taco velho a estalar
Olharia, olharia e não veria...

Olharia, olharia e não veria
Pois de certo, ali, eu não estaria...


Leonardo Guimarães

sábado, 8 de março de 2008

Viagem


Leonardo Guimarães